sexta-feira, 4 de abril de 2008

Olá, Pessoal.
Esse post eu escrevi, originalmente, pro meu blog, lá na época daquele fórum Mídia, Poder e Democracia. Ele fala das mudanças provocadas na comunicação com a entrada da internet nas outras mídias, a partir de uma palestra que eu assisti, do professor Sérgio Amadeu, da Cásper Líbero (SP), um dos mais conhecidos militantes do software livre no Brasil. Relevem a linguagem solta e boa leitura.

O Fantástico Anárquico Mundo da Internet

Eu nunca fui bom com respostas. Mas sei enrolar muito bem. Tanto que, em provas da faculdade, os professores só descobrem que eu não sei a resposta no meio da questão. E aí a nota... É um talento ingrato. O que eu quero dizer é que esse post não tem o objetivo de descobrir o mundo aos olhos de ninguém. Quero só compartilhar recentes descobertas que muito mexeram com minha cabeça.
Foi num Fórum sobre mídia, poder e democracia. E um tal de Sérgio Amadeu me veio com uma palestra de entortar a cabeça. Entortar para melhor. O cara disse que ia falar de democracia no ciberespaço. E falou, falou, falou. E parecia que um disco voador tinha pousado na bancada dos palestrantes e deixado todo mundo hipnotizado. Puta merda! Caraaalho! Que onda é essa, véi...? Todas essas exclamações passavam pela minha cabeça a cada novo tópico que voava em forma de slides. O cara falava muito e rápido e eu entendia tudo e tentava assimilar na mesma velocidade em que o cérebro tremia de êxtase. E um cara sentado à minha frente não parava de olhar para outro, sentado a seu lado, e falar: "o cara sabe tudo, velho!". E o cara sabia. E se tem uma coisa a qual eu dou valor é quando um orador fala sobre algo com segurança. Melhor que qualquer nave espacial pousando na minha frente.
Enfim, na minha limitação de leigo abobalhado com uma palestra, tentarei explicar um pouco do que entendi lá. Permaneça se tiver coragem. A parada é a seguinte:
Não sei se vocês estão acompanhando o processo, mas eu, como estudante de jornalismo, já meio que estava por dentro. O negócio é que tudo está descambando para a digitalização. Já ouviu falar em TV digital? Pois esse é apenas um pedaço do iceberg. Explicando: antes você tinha a sua TV, tinha o seu celular, tinha a sua internet. Com tudo isso convergindo rumo à digitalização (o que aumenta as possibilidades técnicas de tudo, não venha me perguntar porque), cada um deles vai poder ser tudo, cada meio desses vai realizar também - além da sua antiga função - as funções dos outros.
Mas não devemos esquecer de que, antes disso, vivíamos no nosso mundinho analógico e limitado. E, naquela época, haviam os donos de cada um desses três ramos, ganhando suas fortunas na boa, na maior hamonia, lá no topo da pirâmide alimentar do capitalismo. Só que com a digitalização dos meios, fudeu preiboy, tudo cai num mundo em que a lógica é exatamente oposta à da galera do comércio: a falta de leis. E assim nós chegamos ao fantástico mundo da internet - sobre o qual é preciso entender um pouco para darmos prosseguimento.
A Internet - Bem, a Internet (cof,cof) é um mundo absolutamente anárquico, livre. As únicas leis do ciberespaço são as leis de uma galera da qual você já escutou muito falar e deve até não gostar, sem saber que sem eles a net não seria nada: os hackers. A cultura hacker segue três princípios: 1º) A meritocracia (quanto mais fera você for, mais moral você tem); 2º) A liberdade para meter o bedelho em qualquer código-fonte, programa ou sei-lá-o-quê que esteja na internet e 3º) A liberdade para compartilhar seus conhecimentos com quem quer que seja - e eles gostam de compartilhar. Ninguém é dono de nada, ninguém esconde nada. Pois é liberando tudo (as formas que os softwares foram desenvolvidos e etc.) que a galera se diverte, adquirindo cada vez mais conhecimentos e criando coisas cada vez mais mirabolantes. Todos esses programas e sites que nos oferecem serviços de graça na internet foram desenvolvidos por eles.
Voltando, quando tudo foi parar na internet é que a turma do capital deu com os burros n'água. Eles, que já se engalfinhavam entre si para manter seu posto no mercado, cada um tentando entrar no bonde da digitalização da melhor forma, quando chegaram à net, sacaram o problema. Como você vai dominar a TV, a telefonia e tal e coisa se, a qualquer momento, um nerd brocador em internet e o escambau pode desenvolver um site ou programa e disponibilizar de graça para quem quiser usar? Lascou tudo. Mas aí surge a estratégia dos lobos para barrar os cordeiros espalhadores da discórdia: transpor para a internet o mesmo modelo com o qual dominam o rebanho fora dela: criar leis e mais leis que incriminem quem faz isso, transformando tudo em crime. É o que já acontece nos EUA: quem baixar música na internet tá na lista dos terroristas inimigos da nação.
Tudo isso deve estar parecendo coisa de Matrix. Porém, eu vou mais exemplos, para você ver que já está tudo acontecendo. Conhece o TorrentSpy? É um site no qual se acha um mooonte de coisa para baixar - tudo de graça. Você baixa de várias pessoas ao mesmo tempo, de qualquer parte do mundo. Sabe o que o governo dos EUA fez? Proibiu o cidadão americano de acessar, alegando que isso seria violar os direitos autorais. Do mesmo jeito, as empresas de telefonia estão se descabelando, porque quando a net estiver tinindo mesmo, quem mais vai pagar interurbano? Ninguém! Hoje em dia já se fala através do msn, por exemplo, sem pagar um tostão. Ou seja, a tendência é que tudo - chegando à internet - torne-se gratuito ou bem mais barato do que é. Cada um vai ter espaço, inclusive, para criar seu próprio canal de TV, do mesmo jeito que já fazemos blogs. Todos virarão produtores, além de consumidores, e vai ficar difícil convencer alguém a comprar conteúdo ou qualquer tecnologia do tipo. Tudo isso contribui para a inclusão digital, liberdade de conhecimento, de pensamento, de expressão e o caralho a 4. Iaí... fudeu, preiboy.

Pensamentos pós-postagem:

Eu me esqueci de outra coisa que talvez influencie mais que as leis. É a questão da detenção dos meios. Por exemplo, analogicamente falando, só quem tinha uma rede de TV conseguia produzir e por no mercado seu produto, do mesmo jeito que só quem tem uma fazenda bem grande consegue plantar muita soja e ser competitivo. Mas, no caso das mídias digitais e internet, não é preciso de muito capital para produzir nem para veicular o que se produz (o que, provavelmente, nunca acontecerá no caso da soja). Desse modo, os donos das empresas controladoras da comunicação - redes de TV, empresas de telefonia e internet - não detêm mais o poder absoluto sobre os meios, já que qualquer um, dominando as linguagens e códigos-fonte e etc, pode criar isso tudo sem precisar de muita grana ou até sem nenhuma. É um computador na frente e uma idéia na cabeça.

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