terça-feira, 8 de abril de 2008

Imortalidade Digital

Li essa matéria da Cláudia Matarazzo numa revista da Ocean Air Linhas aéreas e achei muito interessante para pensarmos até onde vão os limites entre as novas tecnologias e o que seria dito como a imortalidade, tão almejada pelo ser humano. Até que ponto o homem se deixa iludir no intuito de ter ao seu lado os entes que já se foram? Será que é válido ter um suporte de silício com as informações, personalidade e recordações clonadas de um ser humano como forma de sentir a sua presença e o mesmo "continuar existindo" na terra após a morte carnal?


Estupefata, leio uma matéria da revista “L´ espresso” a notícia de que o coronel de reserva Dave Hughes de Colorado Springs está preparando seu “espírito digital”.
Isso quer dizer que, apesar de gozar de ótima saúde, o coronel já está fazendo um download de todos os seus dados em um programa de computador, para que, quando ele se for dessa para melhor, qualquer pessoa que quiser bater um papinho com sua alma ( ou espírito digital) poderá fazê-lo virtualmente, acessando, por exemplo, um http://www.davehughes.com/ do coronelHughes.com.
E uma vez na sala de chat da eternidade, poderá saber desde a sua opinião sobre jogos de beisebol, até estratégias de guerra, e mesmo se foi ou não feliz em seus casamentos e/ou relacionamentos afetivos. Ah é claro, também haverá dados sobre filhos e netos, de modo que os próprios, quando quiserem saber como o pai ou o avô os percebia, poderão simplesmente “visitar-se” através da alma virtual do coronel.
O conceito de clonar, virtualmente, a personalidade de alguém, parece-me um tanto quanto bizarro.
Evidentemente não o é para toda uma comunidade científica e virtual que já aperfeiçoou programas que permitem que o computador tenha reações exatamente iguais às que teria a pessoa em questão, se realmente submetida ou exposta a determinadas circunstâncias.
O que fascina a comunidade científica é justamente o fato de estarem caminhando para um momento em que será possível, através de um superescaneamento de nossos milhares de neurônios, reproduzir em um suporte de silício todas as nossas ligações neurológicas, o nosso conhecimento, enfim.
O que percebo é que, mesmo sem imortalidade digital, as pessoas que perdem alguém muito próximo se dividem em duas categorias. A primeira é a das que, inconformadas, não “deixam o espírito partir”. Imaginem então o sofrimento prolongado que não seria um CD do espírito de quem se foi, de posse de alguém nessa situação.
Provavelmente faria com que essa pessoa passasse a viver uma realidade paralela e virtual, comprometendo irremediavelmente, sua vida terrena.
A Segunda categoria sofre menos : faz uma seleção natural e só cultiva as boas recordações. A estas, não mais caberia o benefício de lembranças editadas, pois o pequeno, meticuloso e gelado CD ali estaria para privá-las de qualquer tipo de ilusão ou devaneio.
Definitivamente, sou muito classe média para entende essas coisas. Mas pelo menos tenho certeza de que o tempo que passo aqui na terra está sendo usado para criar um diálogo real e ao vivo com quem amo. E não preparando um remoto e – graças a Deus ainda incerto futuro de silício.

2 comentários:

Aline Trettin disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Aline Trettin disse...

É interessante como as pessoas se utilizam da tecnologia para reproduzir milhares idéias que antes pareciam impossíveis de se realizar.
Não seria possível sem este avanço audiovisual deixar lembranças e memórias tão "vivas" de pessoas que já se foram. E o coronel Dave Hughes ainda foi mais além. Talvez seja interessante para montar a árvore genealógica da família, estou com essa dificuldade já que os documentos escritos são muito deficeis de encontrar.Gostaria que meu bisavô por exemplo tivesse deixado registros digitais como esse, se na sua época isto existisse.
Mas a idéia de continuar "vivo virtualmente", a idéia de não ter partido dessa para melhor,é horrorosa. Me lembra a bruxa presa no espelho por toda a eternidade. Até aonde vamos em busca do elixir da longa vida?E até aonde a tecnologia poderá nos acompanhar nesta jornada?