sexta-feira, 14 de março de 2008

Tecnicidades, identidades, alteridades: Mudanças e opacidades da comunicação no novo século.

A aula sintetizou as novas configurações de identidade atribuídas à crescente modificação dos meios de comunicação, principalmente com as influências das mega corporações globais, sejam elas informacional empresarial ou política e com suas atuações ideológicas cada vez mais concretas na formação dessas identidades.

Os alunos mostraram a tentativa de ascensão dessas ideologias abordadas no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, e nos encontros latinos americanos. Essas discussões colocam em questão as novas políticas educacionais, sociais, culturais e comunicacionais de uma sociedade “mídiatica” submetida a uma lógica de mercado internacional cada vez mais fortalecido pela força das grandes corporações.

Esse fortalecimento impõe, assim, a “capacidade de controle da opinião pública e imposição de moldes estéticos sempre mais barato” e tornando passiveis de “controles e ameaças à liberdade de informação e expressão” como cita Martín-Barbero. Dá-se como exemplos o crescente monopólio de sete grandes corporações da comunicação e o tão veiculado atentado de 11 Setembro considerados como configurações de uma dupla perversão.

O fato mais relevante dessas modificações de dominados e dominantes é a ascensão da influência de uma linguagem digitalizada de textos, dados, sons e imagens pondo fim à hegemonia racionalista do oposicionismo entre inteligível e sensível, ciência e arte, razão e imaginação, cultura e técnica, livros e meios audiovisuais. Outra posição respeitante é a configuração de um espaço público de cidadania com redes de movimentos sociais e de meios comunitários que o Fórum Social Mundial dá base e conforma.

Antes de ser apenas fatores de influências contrárias, essas reconfigurações impõem leituras críticas ao novo sistema hegemônico comunicacional do mercado. O caráter cada dia mais subdividido da cultura configura-se também como uma cultura das mídias sobreposta a valores tradicionais.

O que a complexidade dos meios de comunicação gera na atual recepção não é nada menos que uma série de efeitos nos sentidos como novas formas de percepção, linguagem, sensibilidades e escritas. Esses efeitos produzidos pelas tecnociências e grande difusão de informações ultrapassam a barreira espaço-temporal orientando-nos para o consumo. A digitalização dos meios implica conectar novas formas de identidades, ou melhor, novas subdivisões provocando mudanças nos cenários das identidades.

A reconfiguracão tecnológica não implica, apenas, em ascensão da produção de máquinas, mas sim novas relações dos processos simbólicos como:

1. As mediações tecnológicas do conhecimento na produção social

  • Existências de vários e novos formatos de mídias, porém com acessibilidade restrita.
  • Fragmentação das novas formas de processar, (re)produzir e distribuir as informações.
  • Dar importância à cultura oral e visual.
  • Mudanças nas relações e ambiente de trabalho e profissões.

2. A explosão das identidades culturais

  • Globalização com sentimento de impotência.
  • Multiplicação dos referentes e seu conseqüente enfraquecimento (aqui há o enfraquecimento da cultura tradicional).
  • Identidades débeis e fragmentadas.
  • As fragilidades cognitivas abrem espaços para o mercado.
  • Desenraizamento.
  • Individualidade da identidade.
  • Multiculturalidade com readequação às pressões globais.

3. Heterogeneidades socioculturais

  • Reconfigurações das identidades e da política.
  • Identidade baseada nas diferenças vista pelos outros.
  • Reconhecimento através do oral e visual.
  • Controle da configuração política direcionada para o mercado global.
  • Reconstrução das textualidades excluindo a cultura do livro e potencializando a digital.

A precariedade da noção de temporalidade e espaço fez mudar a nossa percepção coletiva provocando amnésia em uns e explosão de memórias em outros. Por fim o homem passa por um processo de mudança na sua cognição. Mas, as estruturas de todas essas mudanças são insuficientes para sociabilizar os valores e as dívidas sociais, pois, se de um lado as mídias de massa se transformam em máquinas de produzir o presente ou acham dedicadas a produzir o esquecimento de outro provocam o enfraquecimento de nossos pretextos identitários que geram um incontrolável desejo de passado.

A tecnicidade desvenda assim, mudanças nos processos informacional territorial e espacial fazendo emergir: variada relocalização das identidades; hibridação da ciência, da arte, da cultura literária, audiovisual e digital; da velocidade das redes que imprimem o aumento do fluxo das informações, atribuem readequação das relações no trabalho e na criatividade.

Um comentário:

Vanie Sena disse...

(Na ocasião da apresentação do texto: “Tecnicidades, identidades e alteridades: mudanças e opacidades da comunicação no novo século”, de 2006, eu e Caio citamos o texto “Globalização comunicacional e transformação cultural” que foi publicado anteriormente, em 2003. Segue aqui, uma breve abordagem das principais idéias contidas neste texto que são aprofundadas no texto apresentado)
Globalização comunicacional e transformação cultural – Jesús Martín-Barbero
Esse texto encontra-se dividido em cinco tópicos: 1. Globalização comunicacional, 2. A comunicação como questão de cultura, 3. A cultura como questão de comunicação, 4. A diferença e a solidariedade na sociedade globalizada e 5. Transformações do mapa cultural: pensando a partir da Colômbia. Deles, somente os três primeiros reaparecem no texto publicado em 2006.
1. Globalização comunicacional
Barbero inicia esse tópico com uma questão: “Como entender as mudanças que a globalização produz em nossas sociedades sem sermos enredados pela ideologia mercantilista que orienta e legitima seu curso atual ou pelo fatalismo tecnológico que legitima o desarraigamento acelerado de nossas culturas?”. Ele responde afirmando que devemos transformar o sentido de lugar no mundo, pois as TIC’s fazem com que o mundo intercomunicado se torne opaco. Opacidade que possui dois lados: a que remete a esfera mercadológica, posta como a única realmente mundial e outra que remete “à densidade e compreensão informativa que introduzem a virtualidade e a velocidade em um espaço-mundo feito de redes e fluxos e não de elementos materiais”. Sendo assim, as fronteiras do nacional e do local se debilitam e se redefinem. Para o novo sentido de local é fundamental o uso das redes eletrônicas que permitem “a criação de grupos que, virtuais em sua origem, acabam territorializando-se, passando da conexão ao encontro e do encontro à ação”. Esse fato não pode ser considerado como um processo de homogeneização e sim, como uma mudança no sentido da diversidade cultural, uma vez que suas fronteiras não são mais nítidas. Elas se transpõem e fazem com que os indivíduos se movam em planos diversos (étnicos e raciais; de gênero ou de homossexualidade etc.).
2. A comunicação como questão de cultura
Neste tópico, o autor chama a atenção para o tratamento que a comunicação midiática dá a cultura latino-americana. Segundo ele, “a comunicação é percebida como o cenário cotidiano do reconhecimento social, da constituição e expressão dos imaginários a partir dos quais as pessoas representam aquilo que temem ou que têm direito de esperar, seus medos e suas esperanças [...] aparece, portanto, como parte das desterritorializações e relocalizações que acarretam as migrações sociais e as fragmentações culturais da vida urbana; do campo de tensões entre tradição e inovação, entre a grande arte e as culturas do povo; do espaço em que se redefine o alcance do público e o sentido da democracia”. E é sob essa ótica que devemos observar os seguintes processos: a) Os modos de sobrevivência das culturas tradicionais; b) As aceleradas transformações das culturas urbanas; c) Os novos modos de se estar juntos; e d) As relações entre o sistema educativo e o ambiente educativo difuso e descentralizado.

3. A cultura como questão de comunicação
“As relações da cultura com a comunicação têm sido frequentemente reduzidas ao mero uso instrumental, divulgador e doutrinador” e essa relação que desconhece a natureza comunicativa da cultura conduz, dessa maneira, à proposta de comunicação puramente conteudista (da cultura). O comunicador deixa de ser intermediário para assumir o papel de mediador. Essa reconfiguração “volta-se basicamente para o entendimento da comunicação como colocação em comum de sentidos da vida e da sociedade”.